terça-feira, 15 de junho de 2010

Música Tradicionalista

Em uma residência simples e bem aconchegante, fui recebida pelo dono da casa e sua esposa com um forte e carinhoso abraço. Ele pediu para eu esperar um pouco, pois ia só tomar um banho rápido e já voltava para começarmos a entrevista.
Depois do banho, bem acomodado em sua cadeira de praia, tomando seu chimarrão com a esposa, sentado na cozinha da casa, que fica em Sapucaia do Sul, começamos a conversar, um papo bom e descontraído.
Comecei então, a fazer minhas perguntas para o cantor e compositor Eduardo Pinheiro, 35 anos. Casado há 10 anos com Fernanda Gonçalves, com quem tem uma linda filha, a pequena Maria Eduarda. Primeiro me disse o significado do nome “Música Tradicionalista”, que todos os estados brasileiros têm sua música regional, no Nordeste é o forró e no sul é a música gaúcha, nossa tradição, que é levada no coração do povo. E me explicou dentro do seu ponto de vista, o porquê que a música gaúcha não se expandi para o Brasil todo. Ele acredita que pelo fato de o nosso vocabulário ser tão forte e especifico fica difícil dos outros entenderem e conseqüentemente gostar das nossas músicas, assim sendo vista por uns com um toque de preconceito e descaso.
Citou o caso do cantor gaúcho Lucas Lima, que foi no Programa do Jô e cantou a musica Porto Alegre é demais, do ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça que é compositor e musico. Mesmo o apresentador Jô pessoa culta e de muito conhecimento das tradições das regiões de nosso país não conhece direito nossos dialetos e nosso vocabulário regional, disse: “O Fogaça como compositor é um ótimo prefeito”. Isso é um grande exemplo do por que nossas musicas não tem uma força maior no cenário da música brasileira. O gaucho com maior destaque no Brasil hoje, é o Gaúcho da Fronteira, não por suas letras, mas sim por ser instrumentista (sanfona), teve um maior prestigio após tocar junto de Dominguinhos no Programa do Ratinho, no SBT.
Depois dessas explicações muito valiosas comecei a fazer minhas perguntas.

Desde pequeno gosta de música e instrumentos músicas e porque optaste por música gaucha, alguém te influenciou?
Sim! Pois participava de um CTG (Centro de Tradições Gaúchas). Com quatro anos comecei a ganhar dinheiro dançando Chula e Malambo, em um grupo de danças, como não tinha idade para dançar junto com uma prenda, optei por dançar sozinho. Era contratado do Banco Bamerindus (hoje não existe mais), eu e o Grupo de Musica Unamérica, que por sinal são meus primos. Viajávamos muito, por todo o estado, nos apresentamos no Galpão Crioulo, Fogo de Chão da tevê Bandeirantes, apresentado pelo cantor e compositor Luiz Menezes. Minha primeira apresentação de dança foi com quatro anos, na inauguração do Galpão das Laranjeiras, hoje o Galpão Crioulo de Sapucaia do Sul. Nessa mesma ocasião, foi à primeira apresentação também do instrumentista Renato Borguette (gaita ponto) em público.
Com oito anos tive sérios problemas na coluna, assim tendo que parar de dançar. Foi aí que começou a minha verdadeira paixão artística, o violão. Sempre gostei de música, meu pai fazia algumas notas, minha irmã também sabia tocar, mais foi com minha mãe que aprendi minhas primeiras notas. No primeiro dia que peguei um violão tirei dele três notas, já no segundo dia de treino consegui tocar cinco músicas, infantil, mais consegui.


Fez aula de música?
Sim, só quando adulto.

Tu és compositor? De onde tira a inspiração para compor? Compõe só a letra ou a melodia também?
Sim, sou compositor de melodias e de letras. A inspiração não tem hora nem lugar, depende do momento que está vivendo, seja ele bom ou ruim. Antes do nascimento da minha filha só compunha melodias, quando fiquei sabendo que minha esposa estava grávida, não cabia em mim de tanta felicidade, pois tínhamos problemas para engravidar, e minha filha foi minha maior inspiração, e a partir daí comecei a compor letra também. Minha primeira letra de música, fiz para ela, para ela e para minha esposa. E essa música ganhou em primeiro lugar na 15º Guyanuba da Canção Nativa de Sapucaia do Sul. Essa música foi um divisor de águas dentro do nativismo, pois foi à primeira canção de Ninar a ganhar o premio, coisa muito difícil de acontecer dentro das grossas paredes que se tem no tradicionalismo gaúcho.

Ganhou quantos prêmios?
Em 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008 Fui vencedor de um dos 3 maiores festivais do nosso estado, a Guyanuba da canção Nativa de Sapucaia do Sul. Também ganhei o premio de melhor interprete em um festival itinerante, Sangue Novo da Canção Nativa e Sertaneja. É um festival que não é daqui, está um ano aqui, outro em Viamão, outro na praia.

Se não tocasse música gaucha, qual outro tipo de música tu gostaria de tocar?
MPB! Gosto de todos os estilos, desde que seja música.

Tu vives de música? Se não vive, gostaria de viver da tua música?
Não; é só um hobby, já vivi sim, mais hoje é só um hobby. Trabalho como supervisor de vendedor de produtos alimentícios. É claro que sim, gostaria de viver da minha música.

Seu maior ídolo? E a música que gosta de ouvir e tocar?
Renato Russo, porque ele é único. Não existe nenhum cover dele. Todos cantam The Beatles, mais ninguém consegue imitar o Renato Russo. É o melhor interprete que já vi cantar. Escrevia o que vinha na cabeça e fazia sucesso, não se importava com o que os outros pensavam.
A música que gosto de ouvir é a One do U2. E a música minha, que gosto de ouvir e tocar é a que fiz pra minha filha, e outra que fiz pra uma menininha chamada Luiza, essas duas músicas me emocionam. E a música Arthur também me emociona, é a música que fiz pro meu sobrinho, que tem Síndrome de Down.
Depois de terminar as perguntas, o Duda, como é chamado pelos mais próximos, teve que ir numa reunião, daí fiquei conversando com sua esposa. Ela me disse que ele e seu parceiro de musica, (parceiro de composição) entraram em contato com o empresário do cantor Daniel, Pedro e Tiago e outros cantores sertanejos, para ver se tinha como eles mandarem algumas músicas para ele ouvir e quem sabe o Daniel gravar, mas ainda estão esperando a resposta.



Apresentação na VIII Expointer 1985 em Esteio-RS



17º Guyanuba da Canção Nativa




A letra da música que ganhou o Prêmio na 15°Guyanuba da Canção Nativa, "Filha".


A família de Eduardo Pinheiro



Keitii Santos
Estudante de Jornalismo

Um comentário:

  1. Adorei esse post sobre música tradicionalista. É muito bom perceber o interesse dos jovens pela cultura do Rio Grande do Sul. Eu, que sou cria de CTG e gosto de cultivar a tradição, me emociono ao ler relatos como este, de pessoas que venceram na vida através do aprendizado obtido com a valorização dos costumes de sua terra.

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